Biografia

Nascido no Porto a 6 de Novembro de 1907, filho de Arnaldo Pinto, ourives, e Amélia Santos, doméstica, o seu destino estava traçado para suceder ao pai na oficina de ourivesaria, tendo por isso frequentado a escola técnica. A morte do pai quando tinha 15 anos fê-lo tomar a oficina em mãos para prover ao sustento da mãe e da irmã, mas o novo casamento da mãe, um ano depois, com que não concordava, levou-o a sair de casa e a repensar o seu futuro.

Enquanto partilha das alegrias do desporto e da nova fé na A.C.M. (Associação Cristã da Mocidade), emprega-se numa casa comercial e estuda à noite, fazendo o curso liceal em dois anos (1926-1927) e sentindo-se atraído por todas as formas de saber e de cultura, como o provam a sua actividade da época: faz parte do orfeão, das equipas de basquetebol, de boxe e de pingue-pongue da ACM, além de participar nas secções de leitura e debate promovidas por essa associação. Dirige o clube de fotografia e várias secções de escoteiros, além de comprar todos os livros que tem possibilidade de adquirir.

De 1927 a 1931 frequenta a universidade do Porto, onde conhece e se torna amigo de outros jovens que mais tarde se tornarão filósofos como ele, e cursa não só Histórico-Filosóficas com elevadas classificações mas também disciplinas da secção de Ciências Matemáticas, e Grego. Além de Leonardo Coimbra, de quem se considera discípulo, é aluno de Luis Cardim, Teixeira Rego, Newton de Macedo e Aarão de Lacerda. Muito activo politicamente enquanto estudante, representou ambas as Faculdades no Senado universitário, tendo pertencido ao movimento da Renovação Democrática e escrito o manifesto Linha Geral da Nova Universidade em 1934.

Após o curso, torna-se professor liceal, primeiro no Liceu Normal do Porto (1932-33), depois em Lisboa no Pedro Nunes (1933-1934) e no Gil Vicente (1934-35), onde faz o exame de estágio.

Em Outubro de 1935 parte para Viena como bolseiro no estrangeiro por dois anos para estudar com os filósofos Schlick, Buhler e Spahn, mas passa já o semestre de Inverno de 1936 em Berlim com Hartmann e Spranger, indo depois para Londres em 1937 estudar com J. McMurray e para Cambridge, com Moore e Broad do Trinity College. Regressa a Portugal em 1937 para, logo de seguida, ir como leitor para a Universidade de Berlim (Institut fur Portugal und Brasilien). Doutora-se em 1940 na Universidade de Coimbra e volta para Berlim, agora como professor convidado (Gastprofessor) até 1942, data em que regressa definitivamente.

Como documentado nas cartas que trocou na altura, espera até 1944 para receber solenemente as insígnias doutorais em Coimbra, devido à acusação, profundamente injusta, ou melhor, calúnia, que lhe foi feita de que a sua tese constituía plágio de um recente livro alemão. Delfim Santos troca abundante e indignada correspondência com a Universidade e com o Ministério da Educação, propondo-se imediatamente obter a dita obra e mandá-la traduzir para que seja feita justiça. Crê-se que foi Joaquim de Carvalho o iniciador dessa suspeita, dadas as repetidas cartas de Delfim Santos a protestar a sua inocência junto deste.

Casa em 1937 com Cristina Brunner, que conheceu por intermédio da fé protestante que ambos professavam, e parte com ela para a sua viagem de estudo na Europa. Em 1938, nasce em Londres a primeira filha do casal, Helena Maria Elisabete. Devido à guerra, o casal é obrigado a separar-se e o segundo filho, Rodolfo Delfim, já vem nascer em Portugal em 1940, continuando Delfim Santos em Berlim até 1942, ano que em que atravessa de carro a Europa para voltar definitivamente.

Em 1945 dá-se a separação definitiva, tendo o jovem professor alugado um andar na Travessa da Fábrica dos Pentes, onde viveu o resto da sua vida, primeiro com a mãe, depois com a nova esposa e a segunda geração de filhos que esta lhe deu.

De facto, o professor encontra na Faculdade de Letras alguns anos mais tarde Maria Manuela Hanemann Saavedra de Sousa Marques, com quem estabelece uma relação amorosa que levará, muitos anos depois, ao casamento de ambos, a 5 de Novembro de 1957. Em 1962, nasce a filha Diana Maria e, em 1963, o filho Pedro Delfim.

Voltando à vertente académica, desde 1950 que é professor catedrático de pedagogia, mas a Universidade nunca consente que ele leccione a sua amada filosofia. Dedica assim a sua vida a dar aulas, sempre a anfiteatros cheios, de cadeiras como História da Educação, Organizaçao e Administração Escolar, Moral e História da Filosofia antiga (1943-47), regendo o curso de Pedagogia e didáctica desde 1948.

Foi também professor de Psicologia e Sociologia no Instituto de Altos Estudos Militares em 1955, e 1958-1962.

Em 1962, faz uma proposta à Fundação Calouste Gulbenkian de criar o Centro de Estudos Pedagógicos dessa fundação, e torna-se o seu director em 1963.

Considera que a actividade de divulgação cultural é apanágio e dever dos professores, e por isso publica regularmente nos jornais textos sobre cultura, educação e cinema.

Morre subitamente de enfarte a 25 de Setembro de 1966, tendo as suas exéquias congregado centenas de antigos alunos, entristecidos e chocados pela perda do Mestre.

Fontes:

  • autobiografia intelectual
  • "Traços Biográficos de Delfim Santos", de Jacinto do Prado Coelho, Março de 1968
  • cartas
  • outros elementos do espólio
  • testemunhos da família
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